Jesus, o Líder Perfeito

Spencer W. Kimball


Há muito mais a se dizer sobre a inigualável liderança do Senhor Jesus Cristo do que é possível escrever em um único artigo ou livro. Todavia, eu gostaria de ressaltar alguns dos atributos e qualidades que Ele possui e que demonstrou possuir de modo tão perfeito. Esses mesmos atributos e qualidades são importantes para todos nós, se for nosso desejo ser bem sucedidos de forma duradoura como líderes.



Princípios Imutáveis

Jesus sabia quem Ele era e porque estava nesta Terra. Isso significa que Ele era capaz de liderar com poder, sem incertezas ou fraquezas.



Jesus ministrava com base em princípios imutáveis, em vez de ir estabelecendo regras de acordo com as circunstâncias. Assim, Seu estilo de liderança era sempre correto e constante. Muitos líderes do mundo hoje são como camaleões-modificam suas cores e opiniões para adaptar-se às circunstâncias-o que somente tende a confundir seus seguidores e companheiros, que não podem ter certeza do curso a ser tomado. Aqueles que se agarram ao poder às custas de seus princípios, em geral acabam sendo capazes de fazer qualquer coisa para perpetuar-se nele.
Jesus sabia quem Ele era e porque estava nesta Terra. Isso significa que Ele era capaz de liderar com poder, sem incertezas ou fraquezas.


Jesus declarou várias vezes: "Vem, segue-me." Seu programa era do tipo "faça o que eu faço", e não "faça o que eu mando." Seu brilho inato lhe permitiria ser um espetáculo fulgurante, mas isso deixaria seus seguidores muito distantes. Ele caminhava e trabalhava com aqueles a quem deveria servir. Sua liderança não era mantida pelo distanciamento, pois Ele não temia a proximidade da amizade; Ele não temia que a proximidade pudesse desapontar Seus seguidores. O fermento da verdadeira liderança não engrandecerá outros a menos que estejamos com eles e sirvamos àqueles que devemos liderar.
Jesus mantinha a virtude de tal maneira que, quando essa proximidade permitia que alguém tocasse-lhe a barra dos vestidos, essa virtude fluía dele (veja Marcos 5:24-34).



Compreensão




Jesus era um líder que escutava, que amava os outros com um amor perfeito, escutando-os sem, porém, condescender. Um grande líder escuta não somente aos outros, mas também à sua consciência e às impressões vindas de Deus. Jesus era um líder paciente, que exortava e amava os que o seguiam. Quando Pedro tomou a espada e cortou a orelha do servo do sumo-sacerdote, Jesus disse: "Mete a tua espada na bainha." (João 18: 11). Sem enraivecer ou se mostrar perturbado, Jesus silenciosamente curou a orelha do servo (Veja Lucas 22:51). Sua reprovação a Pedro foi gentil, mas sem deixar de ser firme.



Por amar os que O seguiam, Ele era capaz de nivelar-se a eles a fim de ser sincero e direto. Ele reprovou Pedro às vezes porque o amava e Pedro, sendo um grande homem, crescia com cada reprimenda. Há um versículo maravilhoso no livro dos Provérbios do qual precisamos nos lembrar:



"Os ouvidos que escutam a repreensão da vida, no meio dos sábios farão sua morada.
O que rejeita a correção, menospreza a sua alma, mas o que escuta a repreensão adquire entendimento." (Prov. 15: 31-32)


Por amar os que O seguiam, Ele era capaz de nivelar-se a eles a fim de ser sincero e direto. Ele reprovou Pedro às vezes porque o amava e Pedro, sendo um grande homem, crescia com cada reprimenda.

Aquele que consegue receber a "reprovação da vida" é um líder sábio e também um seguidor sábio. Pedro era capaz de aceitar a repreensão porque sabia que Cristo o amava e, portanto, Jesus conseguia preparar Pedro para uma posição de responsabilidade no Reino. Jesus considerava o pecado um erro, mas, ao mesmo tempo, era capaz de compreender que o pecado se originava nas profundas necessidades insatisfeitas do pecador, o que lhe permitia condenar o pecado sem condenar o indivíduo. É possível demonstrarmos amor por outros, mesmo quando devemos corrigi-los. Precisamos olhar profundamente nas vidas das outras pessoas para ver as causas básicas de seus defeitos e dificuldades.

Liderança Altruísta

A liderança do Salvador era altruísta. Ele colocava a si mesmo e suas necessidades em segundo plano e ministrava os outros indo muito além do dever, incansavelmente, com amor e eficiência. Tantos problemas no mundo de hoje são causados pelo egoísmo e pelo egocentrismo. Muitos fazem exigências enormes à vida e aos outros a fim de atender suas necessidades. Tudo isso é o extremo oposto dos princípios e práticas exercidos com perfeição pelo exemplo primoroso de liderança, Jesus de Nazaré.



O estilo de liderança de Jesus enfatizava a importância do discernimento em relação aos outros sem procurar manipulá-los. Ele preocupava-se com a liberdade de escolha de seus seguidores. Mesmo Ele, naqueles momentos de tanta significação, teve de decidir-se voluntariamente a aceitar o Getsêmane e o Calvário. Ele nos ensinou que não pode haver crescimento sem a verdadeira liberdade. Um dos problemas da liderança manipuladora é que ela não se baseia no amor pelos outros, mas da necessidade de tirar proveito deles. Líderes desse tipo concentram-se em suas próprias necessidades e não nas dos outros.



Jesus via em perspectiva os problemas do povo. Ele conseguia calcular com precisão o efeito e o impacto de longo prazo de cada declaração, não apenas daqueles que as leriam, mas até mesmo de seu significado dois mil anos mais tarde. Freqüentemente os líderes deste mundo procuram resolver problemas imediatos procurando parar a dor do presente, criando, porém, dificuldades ainda maiores no futuro.



Responsabilidade

Jesus sabia como envolver seus discípulos no processo da vida. Ele lhes deu tarefas importantes e específicas para executarem a fim de procurarem seu próprio desenvolvimento. Outros líderes tentam ser tão onicompetentes e procuram fazer tudo por si mesmos, o que proporciona pouco crescimento aos outros. Jesus tem confiança suficiente em Seus seguidores para compartilhar com eles Sua obra, dando-lhes oportunidade de crescer. Essa é uma das maiores lições de sua forma de liderar. Se descartarmos as pessoas a fim de ter uma tarefa executada mais rápida e perfeitamente, a tarefa poderá ser bem executada, mas à custa do desenvolvimento dos seguidores, que é tão importante. Jesus sabe que a vida nesta Terra tem um propósito e que fomos aqui mandados para crescer. O crescimento, dessa maneira, torna-se tanto um dos meios quanto um dos objetivos da vida. Precisamos corrigir as pessoas positivamente, de um modo amoroso e útil, quando elas erram.



Jesus não temia fazer exigências daqueles que Ele liderava. Seu estilo de liderança não era condescendente ou fraco. Ele teve a coragem de chamar Pedro e outros e fazê-los largar suas redes de pescar e segui-Lo durante a estação de pesca, não depois dela ou depois da próxima pescaria, mas naquele momento! Jesus deixava as pessoas saberem que Ele acreditava nelas e em suas potencialidades, sendo assim possível para Ele ajudá-las a esforçar-se e a atingir grandes realizações. Tantos líderes seculares hoje são, de muitas maneiras, condescendentes e desprezam as pessoas, tratando-as como se devessem permanecer para sempre protegidas e mimadas. Jesus acreditava em seus discípulos, não só pelo que eles eram, mas também por aquilo que podiam tornar-se. Enquanto outros veriam em Pedro apenas um pescador, Jesus via nele um poderoso líder religioso-corajoso, forte-que deixaria sua marca sobre boa parte da humanidade. Amar as pessoas significa ajudá-las a crescer, fazendo exigências razoáveis, mas realistas.





Jesus apresentava às pessoas verdades e tarefas de acordo com sua capacidade. Ele não as assoberbava com mais do que eram capazes de suportar, mas dava-lhes o suficiente para esforçarem-se. Jesus preocupava-se com os elementos básicos da natureza humana e em ocasionar mudanças duradouras, não apenas mudanças superficiais.



Responsabilidade

Jesus ensinou-nos que somos responsáveis não somente por nossas ações, mas também por nossos pensamentos. Essa responsabilidade deve ser sempre lembrada. Vivemos numa época que enfatiza que "não há garantia contra o erro" e que também "não existe erro no comportamento humano". Sem dúvida, não é possível haver responsabilidade sem princípios bem definidos. Um bom líder saberá que é responsável perante Deus e perante aqueles que ele lidera. Ao exigir responsabilidade de si mesmo, ele fica em uma posição melhor para exigir o mesmo dos outros. As pessoas tendem a ter um desempenho no padrão estabelecido pelos seus líderes.

Uso Sábio do Tempo

Jesus nos ensinou também a importância de usarmos nosso tempo com sabedoria, o que não significa que não devamos ter tempo para o lazer, pois deve haver ocasiões para a contemplação e para renovação, embora o desperdício do tempo seja reprovável. Usar o nosso tempo com sabedoria é muito importante, o que não significa, entretanto, que devamos ser frenéticos ou impertinentes. O tempo não pode ser reciclado. Uma vez que o momento tenha passado, ele jamais voltará. A tirania da trivialidade consiste em desviar-nos das pessoas e dos momentos que têm real importância. Os detalhes podem tornar reféns as coisas de real significado e podem fazer com que essa tirania se torne freqüente. O uso sábio do tempo é, na realidade, o gerenciamento da nossa própria vida.

Liderança Secular

As pessoas que mais amamos, admiramos e respeitamos como líderes humanos são assim considerados precisamente porque personificam, de muitos modos diferentes, as qualidades que Jesus tinha em Sua vida e em Sua liderança.



Por outro lado, os líderes que historicamente têm tido um impacto trágico e negativo na humanidade são vistos assim exatamente por não possuírem, em qualquer grau, as qualidades do Homem da Galiléia. Enquanto Cristo era altruísta, eles eram egoístas. Naquilo que Jesus dava liberdade, eles exerciam controle. Enquanto Cristo estava preocupado em servir, eles preocupavam-se com status. Enquanto Cristo atendia às necessidades genuínas dos outros, eles pensavam apenas na satisfação de suas necessidades e desejos. Quando Jesus se mostrava pleno de compaixão equilibrada com justiça, eles em geral enchiam-se de crueldade e injustiça.

Usar o nosso tempo com sabedoria é muito importante, o que não significa, entretanto, que devamos ser frenéticos ou impertinentes.


Talvez nenhum de nós seja o perfeito exemplo de líder, mas todos podemos empreender sérios esforços para nos aproximarmos desse grande ideal.

Nosso Potencial

Um dos grandes ensinamentos do Homem da Galiléia, o Senhor Jesus Cristo, é que trazemos dentro de nós imenso potencial. Ao nos exortar para sermos perfeitos como Nosso Pai Celestial, Jesus não estava brincando ou caçoando de nós. Ele estava nos revelando uma verdade poderosa sobre nossas possibilidades e potencial. Essa é uma verdade quase chocante demais para levarmos em consideração. Jesus, que não podia mentir, procurou nos chamar para seguirmos o caminho da perfeição.


Não somos ainda perfeitos como Jesus o é, mas, a menos que aqueles que nos seguem nos vejam lutando e nos tornando melhores, eles não poderão seguir nosso exemplo e vão nos enxergar como hipócritas em relação àquilo que nos propomos fazer.


Cada um de nós tem mais oportunidades de fazer o bem e de ser bons do que somos capazes de aproveitar. Essas oportunidades estão por todo lado. Seja qual for a extensão do nosso círculo atual de influência, se melhorássemos um pouquinho nosso desempenho, esse círculo se ampliaria. Há muitos indivíduos à espera de serem tocados e amados, se apenas tivermos o cuidado de melhorar nosso desempenho.



Devemos lembrar-nos que todos os mortais que encontramos nos estacionamentos, escritórios, elevadores e outros lugares fazem parte daquela porção da humanidade que o Senhor nos deu para amar e servir. Pouco se nos adiantará discursarmos sobre a irmandade geral de toda a humanidade se não conseguirmos enxergar aqueles ao nosso redor como nossos irmãos e irmãs. Se nossa porção da humanidade nos parece pequena e pouco estimulante, precisamos lembrar-nos da parábola que Jesus nos deu para nos mostrar que a grandeza não é uma questão de tamanho ou escala, mas da qualidade de nossa vida. Se nos sairmos bem com as oportunidades e talentos que nos foram dados, Deus não o deixará de observar. E àqueles que se saem bem com as oportunidades que lhes são dadas, mais será dado!



As escrituras contêm muitos exemplos maravilhosos de líderes que, ao contrário de Jesus, não eram perfeitos, mas que ainda assim se saíram muito bem. Ler essas histórias freqüentemente nos faria muito bem. Esquecemo-nos que as escrituras nos apresentam séculos de experiência em liderança e, ainda mais importante, nos mostram os princípios imutáveis sobre os quais a verdadeira liderança deve operar para ser bem sucedida. As escrituras são o manual de instruções do futuro líder.

O Líder Perfeito

Não me desculpo por reconhecer alguns dos atributos de Jesus Cristo naqueles que procuram ser líderes bem sucedidos.


Se desejamos ser eminentemente bem sucedidos, Ele é o nosso padrão. Todas as qualidades nobres, perfeitas e belas da maturidade, do poder e da coragem encontram-se nessa única pessoa. Quando a multidão enfurecida, armada até os dentes, aproximou-se dele para prendê-lo, Ele a enfrentou com resolução, perguntando a seus perseguidores: “A quem buscais?”
Surpresa, a multidão murmurou Seu nome: “Jesus de Nazaré.”



“Sou eu”, respondeu Jesus Nazareno, com altivez, coragem e poder. Os soldados recuaram e caíram por terra.”



Perguntou-lhes ainda uma segunda vez: “A quem buscais?”, e quando repetiram Seu nome, Ele lhes disse: “Já vos disse que sou eu; se pois buscais a mim, deixai ir estes.” (João 18: 4-8).



Talvez o mais importante que eu possa dizer sobre Jesus Cristo, mais importante do que tudo o que já disse é que Ele vive. Ele realmente possui todas as virtudes e atributos dos quais as escrituras nos falam. Se chegarmos a saber isso, então conheceremos a realidade principal sobre o homem e sobre o universo. Se não aceitarmos essa verdade e essa realidade, então não teremos o princípio estabelecido ou as verdades transcendentais pelas quais é possivel viver vidas felizes e caridosas. Em outras palavras, ser-nos-á muito difícil ser líderes que fazem diferença se não reconhecermos a realidade do líder perfeito, Jesus Cristo e se não deixarmos que Ele seja a luz através da qual enxergamos nosso caminho!


Share/Bookmark ~ quinta-feira, 21 de maio de 2009 0 Comentários

Acautelai-vos Do Orgulho





Presidente Ezra Taft Benson

Conferência Geral, Abril 1989

“Orgulho é o pecado universal, o grande vício... O orgulho é a grande Pedra de tropeço de Sião.”

Meus amados irmãos, alegro-me por estar convosco em mais uma gloriosa conferência geral da Igreja. Sou profundamente grato pelo amor, orações e serviço dos devotados membros da Igreja no mundo inteiro.
Gostaria de elogiar os santos fiéis que se empenham por inundar a terra e a própria vida com o Livro de Mórmon. Precisamos não só distribuir de forma monumental mais exemplares do Livro de Mórmon, mas temos de promover corajosamente mais de suas maravilhosas mensagens em nossa própria vida e por toda a terra.
Esse sagrado livro foi escrito para nós - para os nossos dias. Suas escrituras destinam-se a ser aplicadas por nós. (Vide 1 Néfi 19:23.)
O livro Doutrina e Convênios nos diz que o Livro de Mórmon é o “registro de um povo decaído”. (Vide D&C 20:9.) E por que ele caiu? Esta é uma das principais mensagens do Livro de Mórmon. Nos derradeiros capítulos desse registro, Mórmon dá a resposta nestes termos: “Eis que o orgulho desta nação, ou seja, do povo nefita, será a causa de sua destruição.” (Morôni 8:27.) E depois, para que não ignoremos essa significativa mensagem do Livro de Mórmon a respeito do povo decaído, o Senhor nos adverte em Doutrina e Convênios: “Precavei-vos contra o orgulho, para que não vos torneis como os nefitas de outrora.” (D&C 38:39.)
Peço sinceramente o beneficio de vossa fé e oraçoes ao procurar lançar luz sobre esta mensagem do Livro de Mórmon - o pecado do orgulho - mensagem esta que me vem acabrunhando a alma já há certo tempo. Sei que o Senhor quer que essa mensagem seja transmitida agora.
No conselho pré-mortal, foi o orgulho que derrubou Lúcifer, o “filho da manhã”. (2 Néfi 24:12-15; vide também D&C 76:25-27; Moisés 4:3.) No fim deste mundo, quando Deus purificar a terra pelo fogo, os orgulhosos serão queimados qual restolho e os mansos herdarão a terra. (Vide 3 Néfi 12:5, 25: 1; D&C 29:9; Joseph Smith 2:37; Malaquias 4:1.)
Em Doutrina e Convênios, o Senhor por três vezes usa a frase “acautelai-vos do orgulho”, inclusive falando ao segundo élder da Igreja, Olíver Cowdery, e Emma Smith, esposa do profeta. (D&C 23: 1; vide também 25:14; 38:39.)
O orgulho é um pecado muito mal compreendido, e muitos pecam por ignorância. (Vide Mosias 3:11; 3 Néfi 6:18.) Nas escrituras, o orgulho nunca é considerado justo - sempre é pecado. Portanto, não importa como o mundo empregue o termo, temos de compreender o sentido que Deus lhe dá para entendermos a linguagem dos escritos sagrados e deles tirar proveito. (Vide 2 Néfi 4:15; Mosias 1:3-7; Alma 5:61.)
Muitos de nós consideramos o orgulho egocentrismo, convencimento, jactância, arrogância ou soberba. Tudo isto faz parte do pecado, mas continua faltando a essência, o cerne.
O cerne do orgulho é a inimizade - inimizade para com Deus e para com o próximo. Inimizade quer dizer “ódio, hostilidade ou oposição”. E o poder pelo qual Satanás quer reinar sobre nós.
O orgulho é essencialmente competitivo por natureza. Lançamos nossa vontade contra a de Deus. Quando lançamos nosso orgulho contra Deus, é no sentido de “seja feita a minha vontade e não a tua”. Conforme dizia Paulo, eles “buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus”. (Filipenses 2:21.)
Nosso desejo de competir com a vontade de Deus, dá vazão desenfreada aos desejos, apetites e paixões. (Vide Alma 38:12; 3 Néfi 12:30.)
O orgulhoso não consegue aceitar que sua vida seja dirigida pela autoridade de Deus. (Vide Helamã 12:6.) Ele opõe sua percepção da verdade ao conhecimento maior de Deus, sua capacidade ao poder do sacerdócio de Deus, suas realizações às poderosas obras dele.
Nossa inimizade para com Deus assume muitos rótulos, como rebeldia, coração endurecido, obstinação, impenitência, soberba, suscetibilidade e incredulidade. Os orgulhosos querem que Deus concorde com eles. Não estão interessados em mudar de opinião para concordar com Deus.
Outro componente importante desse pecado predominante é a inimizade para com nossos semelhantes. Somos tentados diariamente a considerar-nos melhores que os outros e a diminuí-los. (Vide Helamã 6:17; D&C 58:41.)
Os orgulhosos fazem de todos os homens seus adversários, lançando seu intelecto, opiniões, obras, posses, talentos ou qualquer outro mecanismo de medida contra seus semelhantes. Nas palavras de C. S. Lewis: “O orgulho não se compraz em ter alguma coisa, somente em ter mais que o próximo... É a comparação que vos torna orgulhosos: o prazer de sentir-se acima dos outros. Tirando-lhe o elemento competitivo, desaparece o orgulho.” (Mere Christianity, New York: Macmillan, 1952, pp. 109-110.)
No conselho pré-terreno, Lúcifer apresentou sua proposta contra o plano do Pai, defendido por Jesus Cristo. (Vide Moisés 4:1-3.) Queria ser honrado mais que todos os outros. (Vide 2 Néfi 24:13.) Em suma, desejava em sua soberba destronar a Deus. (Vide D&C 29:36; 76:28.)
As escrituras estão repletas das graves conseqüências que o pecado do orgulho causou a pessoas, grupos, cidades e nações. “A soberba precede a ruína.” (Provérbios 16:18.) Causou a destruição do povo nefita e da cidade de Sodorna. (Vide Morôni 8:27; Ezequiel 16:49-50.)
Foi o orgulho que provocou a crucificação de Cristo. Os fariseus se enfureceram por Jesus declarar-se o Filho de Deus, o que ameaçava sua posição, e por isso tramaram sua morte. (Vide João 11:53.)
Saul tornou-se inimigo de Davi por orgulho. Ficou enciumado porque as mulheres israelitas saíram ao seu encontro cantando: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares.” (I Samuel 18:6-8.)
O orgulhoso teme mais o julgamento humano que o julgamento de Deus. (Vide D&C 3:6-7; 30:1-2; 60:2.) “O que os homens pensarão de mim?” pesa mais do que: “O que Deus pensará de mim?”
O Rei Noé estava disposto a libertar o Profeta Abinádi, mas o apelo ao seu orgulho da parte dos sacerdotes iníqüos mandou Abinádi para a fogueira. (Vide Mosias 17:11-12.) Herodes afligiu-se quando a esposa pediu que João Batista fosse decapitado, mas seu desejo orgulhoso de sobressair aos olhos “dos que estavam à mesa com ele” causou a morte de João. (Mateus 14:9; vide também Marcos
6:26.)
O temor do julgamento dos homens se manifesta na luta pela aprovação deles. O orgulhoso ama “a glória dos homens, (mais) do que a glória de Deus”. (João 12:42-43.) O pecado se manifesta nos motivos pelos quais agimos. Jesus disse que fazia “sempre” o que agradava a Deus. (Vide João 8:29.) Não faríamos melhor em ter o agrado de Deus por estímulo, do que procurar sobressair e fazer melhor que outra pessoa?
Certas pessoas orgulhosas estão mais preocupadas com o fato de seu salário ser superior ao de outra pessoa do que se o mesmo atende suas necessidades. Sua recompensa é estar um grau acima dos outros. Esta é a inimizade do orgulho.
Quando o orgulho toma conta de nosso coração, deixamos de ser independentes do mundo e escravizamos nossa liberdade ao julgamento humano. O mundo brada mais alto que os sussurros do Espírito Santo. O raciocínio humano prevalece sobre as revelações de Deus, e o orgulhoso larga a barra de ferro. (Vide 1 Néfi 8:19-28; 11:25; 15:23-24.)
Orgulho é o pecado que vemos facilmente nos outros, mas raramente reconhecemos em nós mesmos. Quase todos nós consideramos o orgulho como pecado de pessoas eminentes, corno os ricos e os instruídos, olhando de cima para o resto de nós. (Vide 2 Néfi 9:42.) Existe, porém, um mal muito mais comum entre nós: o orgulho dos que de baixo olham para cima. Este se manifesta de inúmeras maneiras, como críticas, maledicência, difamação, resmungos, viver acima das posses, inveja, cobiça, recusar gratidão e louvor capaz de edificar outra pessoa, e mostrar-se insensível e invejoso.
A desobediência é basicamente o orgulhoso desafio a alguma autoridade superior. Pode ser a de um pai ou mãe, líder do sacerdócio, professor ou, sobretudo, Deus. A pessoa orgulhosa detesta o fato de que alguém esteja acima dela, achando que isto a rebaixa.
O egoísmo é um dos aspectos mais comuns do orgulho. “Como isto me afeta” é o centro de tudo que importa - presunção, autocomiseração, auto-realização mundana, satisfação própria e egoísmo.
O orgulho resulta em combinações secretas destinadas a obter poder, proveito e a glória do mundo. (Vide Helamã 7:5; Éter 8:9, 16, 22-23; Moisés 5:31.) Esse fruto do pecado do orgulho, isto é, as combinações secretas, derrubou a civilização jaredita e a nefita, e tem sido e ainda será a causa da ruína de muitas nações. (Vide Éter 8:18-25.)
Outro aspecto do orgulho é a contenda. Discussões, disputas, domínio injusto, divergências entre gerações, divórcios, maus tratos conjugais, motins e tumultos enquadram-se todos nessa categoria de orgulho.
Contendas na família afastam o Espírito do Senhor, como também muitos membros de nossa família. A contenda varia de uma palavra ofensiva a conflitos mundiais. Dizem-nos as escrituras que “da soberba só provém a contenda”. (Provérbios 13: 10; vide igualmente Provérbios 28:25.)
As escrituras testificam que o orgulhoso se ofende facilmente e guarda ressentimento. (Vide 1 Néfi 16:1-3.) Ele se nega a perdoar a fim de manter o outro em débito e justificar sua mágoa.
Os orgulhosos não aceitam facilmente conselho ou repreensão. (Vide Provérbios 15:10; Amós 5: 10.) Usam a atitude defensiva para justificar e racionalizar suas fraquezas e falhas. (Vide Mateus 3:9; João 6:30-59.)
Os orgulhosos dependem do mundo para dizer-lhes se têm valor ou não. Sua auto-estima depende de onde se encontram, pretensamente, na escada do sucesso mundano. Sentem-se dignos de mérito como pessoa se houver um número suficiente de indivíduos abaixo deles em termos de realizações, talento, beleza ou inteligência. O orgulho é feio e diz: “Se tens sucesso, sou um fracasso.”
Se amarmos a Deus, fizermos sua vontade e temermos seu julgamento mais que o dos homens, teremos auto-estima.
O orgulho é um pecado amaldiçoador no verdadeiro sentido da palavra. Ele limita ou impede o progresso. (Vide Alma 12:10-11.) Os orgulhosos não se deixam ensinar. (Vide 1 Néfi 15:3, 7-11.) Não mudam de idéia para aceitar verdades porque fazê-lo implicaria admitir seu erro.
O orgulho afeta negativamente todas as nossas relações - nossas relações com Deus e seus servos, entre marido e esposa, pais e filhos, empregador e empregado, professor e aluno, e toda a humanidade. Nosso grau de orgulho determina como tratamos nosso Deus e nossos irmãos. Cristo quer elevar-nos até onde ele se encontra. Será que desejamos fazer o mesmo com os outros?
O orgulho debilita nosso sentimento de filiação para com Deus e fraternidade para com o homem. Ele nos separa e divide em “classes” de acordo com nossas “riquezas” e “oportunidades de instrução”. (3 Néfi 6:12.) É impossível haver unidade num povo orgulhoso, e se não formos um, não somos do Senhor. (Vide Mosias 18:21; D&C 38:27; 105:2-4; Moisés 7:18.)
Pensai no que o orgulho nos tem custado no passado e nos está custando hoje em nossa vida, nossa família e na Igreja.
Pensai no arrependimento possível em termos de vidas transformadas, casamentos preservados e lares fortalecidos, se o orgulho não nos impedir de confessar os pecados e abandoná-los. (Vide D&C 58:43.)
Pensai nos numerosos membros que se tornaram menos ativos na Igreja, porque foram ofendidos, e o orgulho não lhes permitiu perdoar ou fartar-se plenamente à mesa do Senhor.
Pensai nas dezenas de milhares a mais de jovens e casais que poderiam estar cumprindo missão, se o orgulho não os impedisse de entregar seu coração a Deus. (Vide Alma 10:6; Helamã 3:34-35.)
Pensai no crescimento da obra do templo, se o tempo dedicado a esse serviço sublime fosse mais importante que muitos interesses orgulhosos que reclamam nosso tempo.
O orgulho afeta todos nós em diversas ocasiões e vários graus. Agora podeis ver por que o edifício representativo do orgulho no sonho de Leí era grande e espaçoso, e enorme a multidão que nele entrava. (Vide 1 Néfi 8:26, 33; 11:35-36.)
Orgulho é o pecado universal, o grande vício. Sim, o orgulho é o pecado universal, o grande vício.
O antídoto para o orgulho é humildade - mansidão, submissão. (Vide Alma 7:23.) É o coração quebrantado e espírito contrito. (Vide 3 Néfi 9:20,12:19; D&C 20:37, 59:8; Salmos 34:18; Isaías 57:15, 66:2.) Conforme tão bem o colocou Rudyard Kipling:
Morrem os gritos e o clamor,
Passa dos reis o vão poder,
Mas teu divino esplendor,
Há de viver, há de viver.
Teus mandamentos, o Senhor,
Não nos permitas esquecer!
(“Deus de Meus Pais”, Hinos, n.º 58.)
Deus terá um povo humilde. Podemos escolher ser humildes ou podemos ser compelidos à humildade. Diz Alma: “Abençoados são os que se humilham sem a isso serem compelidos.” (Alma 32:16.)
Sejamos humildes por opção.
Podemos ser humildes voluntariamente vencendo a inimizade para com nossos irmãos, estimando-os como a nós próprios e alçando-os até onde estamos, ou mais alto ainda. (Vide D&C 38:24; 81:5; 84:106.)
Podemos ser humildes voluntariamente aceitando conselhos e punição. (Vide Jacó 4:10; Helamã 15:3; D&C 63:55, 101:4-5, 108:1, 124:61, 84; 136:31; Provérbios 9:8.)
Podemos ser humildes voluntariamente perdoando os que nos ofenderam. (Vide 3 Néfi 13:11, 14; D&C 64: 10.)
Podemos ser humildes voluntariamente prestando serviço abnegado. (Vide Mosias 2:16-17.)
Podemos ser humildes voluntariamente saindo em missão e pregando a palavra capaz de tornar outros humildes. (Vide Alma 4:19; 31:5; 48:20.)
Podemos ser humildes voluntariamente indo mais freqüentemente ao templo.
Podemos ser humildes voluntariamente confessando e abandonando o pecado, e nascendo de Deus. (Vide D&C 58:43; Mosias 27:25-26; Alma 5:7-14, 49.)
Podemos ser humildes voluntariamente amando a Deus, fazendo sua vontade e dando-lhe prioridade em nossa vida. (Vide 3 Néfi 11:11, 13:33; Morôni 10:32.)
Sejamos humildes por opção. Nós podemos sê-lo. Sei que podemos.
Meus queridos irmãos, temos de nos preparar para redimir Sião. Foi essencialmente o pecado do orgulho que nos impediu de estabelecer Sião nos dias do Profeta Joseph Smith. Foi o mesmo pecado que decretou o fim da consagração entre os nefitas. (Vide 4 Néfi 1:24-25.)
O orgulho é a grande pedra de tropeço no caminho de Sião. Repito. O orgulho é a grande pedra de tropeço no caminho de Sião.
Temos de limpar o vaso interior vencendo o orgulho. (Vide Alma 6:2-4; Mateus 23:25-26.) Temos de ceder “aos sussurros do Espírito Santo”, despojar-nos do “homern natural”, santificando-nos “pela expiação de Cristo, o Senhor”, e tornando-nos como “a criança, submisso, manso, humilde”. (Mosias 3:19; vide também Alma 13:28.)
Que assim procedamos e sigamos avante para cumprir nosso divino destino, é minha fervorosa oração em nome de Jesus Cristo. Amém.

(A Liahona, julho de 1989, pp. 3-6)


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