Por Que Servimos?, Élder Dallin H. Oaks

~ terça-feira, 1 de junho de 2010
Discurso proferido na 154ª Conferência Geral Semi Anual, 6 de Outubro de 1984 (A Liahona, Janeiro de 1985, pp. 12-15)

A Serviço do Senhor


Meus queridos irmãos e irmãs, por não ser próprio eu começar meu serviço na Igreja antes de concluir meus deveres judiciais no governo estadual, não falei na conferência de abril, na qual fui apoiado. Portanto, esta conferência semi-anual é minha primeira oportunidade de dirigir-me a todos os membros da Igreja, expressando minha aceitação do chamado para o Conselho dos Doze.

Estou emocionado com este chamado. Tendo sido “chamado por Deus, por profecia e pela imposição de mãos por quem possua autoridade.” (Regras de Fé 1:5), deixo alegremente minhas atividades profissionais para passar o resto da vida no serviço do Senhor. Devotar-me-ei de todo o coração, poder, mente e força à grande confiança em mim depositada, particularmente às responsabilidades de uma testemunha especial do nome de Jesus Cristo em todo o mundo.



Por que Servimos?

Muitos homens e mulheres foram chamados ao serviço da Igreja em abril deste ano. Oito irmãos foram chamados como autoridades gerais, e seis irmãs para a presidência da Sociedade de Socorro e das Moças. Mais de duzentos homens foram chamados como bispos, e acima de mil e setecentos irmãos e irmãs como missionários de tempo integral. Nesse mesmo mês, dezenas de milhares foram chamados como oficiais e professores e para outras funções nas diversas organizações da Igreja pelo mundo afora. Os irmãos chamados em abril uniram-se a milhões de outros já servindo em funções semelhantes na Igreja Restaurada.

Ao pensar em meu próprio chamado e no dos milhões de outros já em serviço, fui levado a ponderar esta pergunta: Por que servimos?



Servir é Imperativo.



Servir é imperativo para os que amam Jesus Cristo. Aos seguidores que buscavam posição eminente em Seu reino, o Salvador ensinou: “E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.” (Mateus 20:27). Noutra ocasião, Ele falou sobre atender às necessidades do faminto, despido, enfermo e preso, concluindo Seu ensinamento com estas palavras: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:40).

Na revelação moderna, o Senhor nos mandou: “Socorre os fracos, ergue as mãos que pendem e fortalece os joelhos enfraquecidos.” (D&C 81:5). Noutra seção de Doutrina e Convênios, Ele nos instrui a nos “ocupar-se zelosamente numa boa causa, e fazer muitas coisas de (nossa) livre e espontânea vontade e realizar muita retidão.” (D&C 58:27). Os portadores do Sacerdócio de Melquisedeque fazem convênio de usar os poderes a ele inerentes em benefício do próximo. Na verdade, servir é uma obrigação assumida por todos os membros da Igreja de Jesus Cristo.

Se servimos ao próximo ou a Deus, é o mesmo. (Ver Mosias 2:17.) Se O amamos, devemos guardar Seus mandamentos e apascentar Suas ovelhas. (Ver João 21:16-17.)

O Senhor Olha para o Coração.

Pensando em serviço, lembramo-nos geralmente do que fazemos com as mãos. As escrituras, porém, ensinam que o Senhor atenta tanto para nossos pensamentos como para nossos atos. Um dos primeiros mandamentos de Deus a Israel foi que deviam amá-Lo e “servi-Lo de todo o coração e alma”. (Ver Deuteronômio 11:13.) Quando Samuel, o profeta, recebeu a incumbência de escolher e ungir um dos filhos de Jessé como novo rei de Israel, o Senhor mandou que rejeitasse o primogênito, embora fosse um homem de bela aparência, dizendo: “Não atentes para sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. (I Samuel 16:7)

Diz um conhecido provérbio que como o homem imagina em sua alma, assim ele é. (Provérbios 23:7) E lemos também: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito”. (Provérbios 16:2)

A revelação moderna declara que o Senhor requer do homem não apenas atos, mas “requer o coração e uma mente solícita”. (D&C 64:34)

Numerosas escrituras ensinam que nosso Pai Celestial conhece nossos pensamentos e intentos do coração. (Ver D&C 6:16; Mosias 24:12; Alma 18:32.) Morôni ensina que para terem mérito, nossas obras precisam ser feitas pelo motivo certo. Se um homem oferecer uma dádiva ou uma oração a Deus e esta não for feita com real intento, de nada lhe aproveitará. “Porque eis que não lhe é imputado por justiça.” (Morôni 7:6-7)

O Profeta Alma ensinava igualmente que, se tivermos endurecido o coração contra a palavra de Deus, “não nos atreveremos a olhar para o nosso Deus” até o juízo final, porque “todas as nossas palavras nos condenarão (...) e nossos pensamentos também”. (Alma 12:14).



Por que servimos?



Essas escrituras deixam claro que, para que nosso serviço na Igreja e ao próximo seja puro, é necessário considerar não só como servimos, mas também por quê.



As pessoas servem-se mutuamente por diversas razões, sendo que algumas destas são melhores que outras. Possivelmente ninguém de nós sirva sempre por uma única razão. Sendo seres imperfeitos, quase todos nós provavelmente servimos por uma série de razões, combinação esta que poderá mudar de tempos em tempos à medida que crescemos espiritualmente. Todos, entretanto, devemos procurar servir pelas melhores e mais sublimes razões.



Quais são algumas das razões de servirmos? À guisa de ilustração e sem pretender alongar-me, gostaria de sugerir seis delas, falando delas em ordem crescente, das mais insignificantes até a mais importante.



1. Para receber Riquezas ou Honra?



Alguns servem na esperança de recompensas terrenas. Tal pessoa poderá servir na Igreja ou por meio de atos pessoais de misericórdia com intuito de conseguir preeminência ou cultivar contatos que a favoreçam materialmente. Outros servem, talvez, para obter honrarias, destaque ou poder mundano.

As escrituras têm um nome para o serviço no evangelho “para adquirir riquezas e honrarias”; chamam-no de “artimanha sacerdotal”. (Alma 1:16) Dizia Nefi: “Artimanha sacerdotal é o homem pregar e estabelecer-se como uma luz para o mundo, a fim de obter lucros e louvor do mundo; não procura, porém, o bem-estar de Sião”. (2 Nefi 26:29) Nestes últimos dias, recebemos ordem de “esforçar-nos para erguer e estabelecer a causa de Sião”. (D&C 6:6) Infelizmente, nem todos os que produzem obras nesse sentido tencionam realmente edificar Sião ou fortalecer a fé do povo de Deus. Pode haver outros motivos.

O serviço ostensivamente altruísta mas que na realidade visa lucros ou renome, certamente inclui-se na condenação do Salvador aos que parecem “exteriormente justos aos homens, mas interiormente (estão) cheios de hipocrisia e de iniqüidade”. (Mateus 23:28) Um serviço assim não merece qualquer recompensa no evangelho.

“Deveis dar esmolas aos pobres”, diz o Salvador, “mas guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus.”(3 Nefi 13:1; ver também Mateus 6:1-2.) E o Salvador continua, dizendo:

“Quando pois, derdes esmolas, não toqueis trombeta diante de vós, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (3 Nefi 13:2; ver também Mateus 6:2.)

Mas aqueles que servem sem alarde, mesmo “em segredo” qualificam-se para a promessa do Salvador de que “teu Pai, que vê em oculto, recompensar-te-á abertamente”. (3 Nefi 13:18; ver também Mateus 6:4.)



2. Para Conseguir Boas Amizades?



Outra razão para servir – provavelmente mais meritória que a primeira, ainda assim, porém buscando recompensa terrena – é a motivada pelo desejo pessoal de boas amizades. Sem dúvida fazemos bons amigos servindo na Igreja, mas será por isto que servimos?

Conheci uma pessoa que servia ativamente na Igreja até que um amigo e colega de trabalho socialmente importante se mudou. Assim que ele se foi da ala, essa pessoa parou de servir. Neste caso, o obreiro do evangelho estava disposto a servir só enquanto seus companheiros fossem aceitáveis.

As pessoas que servem unicamente visando boas companhias mostram-se mais seletivas na escolha de seus amigos do que o Mestre quanto aos Seus servos ou companheiros. Jesus chamou a maioria de Seus servos dentre as camadas humildes. E conviveu com pecadores. E rebatia as críticas nesse sentido dizendo: “Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento”. (Lucas 5:31-32).

A primeira seção de Doutrina e Convênios, que fala do povo dos últimos dias, dá uma descrição que parece incluir todos os que servem na esperança de alguma recompensa terrena: “Não buscam ao Senhor para estabelecer sua justiça, mas todo homem anda em seu próprio caminho, segundo a imagem do seu próprio deus, cuja imagem é à semelhança do mundo, e cuja substância é a de um ídolo”. (D&C 1:16).

Essas duas razões para servir são interesseiras e egocêntricas, e indignas de um santo. Conforme diz o Apóstolo Paulo, nós que somos suficientemente fortes para suportar as debilidades dos fracos, não devemos fazê-lo para ‘agradar a nós mesmos’. (Romanos 15:1). Motivos que visam recompensa terrena são nitidamente inferiores em caráter e mérito às outras razões que discutirei.



3. Medo da Punição?



Alguns talvez sirvam por medo de castigos. As escrituras estão repletas de descrições da condição miserável dos que deixam de seguir os mandamentos de Deus. O Rei Benjamin ensinava a seu povo que a alma do transgressor impenitente seria tomada de “um vivo sentimento de sua própria culpa, que o leva a recuar diante da presença do Senhor e enche-lhe o peito de culpa e dor e angústia, como um fogo inextinguível, cuja chama se eleva para sempre.”. (Mosias 2:38) Tais descrições oferecem sem dúvida incentivo suficiente para guardar o mandamento de servir. Entretanto, servir por medo é na melhor das hipóteses um motivo inferior.



4. Dever ou Lealdade?



Outras pessoas podem servir por senso de dever ou por lealdade a amigos, família ou tradições. São aqueles a quem eu chamaria de bons soldados, que fazem instintivamente o que lhes é pedido sem questioná-lo e às vezes sem pensar muito nos motivos de seu serviço. Tais pessoas formam o grosso de qualquer organização voluntária, e produzem um grande bem. Todos nós já nos beneficiamos com as boas obras dessas pessoas. Os que servem por senso de dever ou lealdade a várias causas louváveis são os bons e honrados homens e mulheres da Terra.

O serviço do tipo que acabo de descrever é digno de louvor e certamente faz jus a bênçãos, particularmente se feito com boa vontade e alegria. Como dizia o Apóstolo Paulo na segunda epistola aos Coríntios:

“E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.” (2 Coríntios 9:6-7) Disse um autor anônimo: “Deus aceita a obediência voluntária, mas odeia aquilo que é forçado, pois é mais um tributo que uma oferta.”



5. Esperança de uma Recompensa Eterna?



Embora os que servem por temor ou pelo senso de dever se qualifiquem, sem dúvida, para as bênçãos do céu, existem razões mais sublimes para servir.

Uma delas é a esperança de uma recompensa eterna. Esta esperança – a expectativa de desfrutar os frutos do nosso labor – é uma das mais poderosas fontes de motivação. Como razão para servir, envolve necessariamente fé em Deus e no cumprimento de Suas profecias. As escrituras são ricas em promessas de recompensa eterna. Numa revelação dada ao Profeta Joseph Smith em junho de 1829, por exemplo, diz o Senhor: “Se guardares meus mandamentos e perseverares, até o fim, terás vida eterna, que é o maior de todos os dons de Deus.” (D&C 14:7)



6.1 O Motivo mais Elevado para Servir



O último motivo de que falarei é, em minha opinião, o maior de todos. Com relação ao servir, é o que as escrituras chamam de “Caminho mais excelente”. (I Coríntios 12:31).

“A caridade é o puro amor de Cristo.” (Morôni 7:47). O Livro de Mórmon nos ensina que esta virtude “é de todas a maior”. (Morôni 7:46). O Apóstolo Paulo confirma e ilustra esta verdade em seu grande ensino sobre os motivos do servir:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse [caridade], seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres (...) e não tivesse [caridade], nada disso me aproveitaria” (I Coríntios 13:1-3).

Sabemos por estas palavras inspiradas que até mesmo os mais sublimes atos de serviço – como dar todos os nossos bens para sustentar os pobres – de nada nos aproveitaria se nosso serviço não fosse motivado pelo puro amor de Cristo.

Para que nosso serviço tenha o máximo de eficácia, tem de ser feito por amor a Deus e a Seus filhos. O Salvador aplicou esses princípios no Sermão da Montanha, no qual nos ordena que amemos nossos inimigos, bendigamos os que nos maldizem, façamos o bem aos que nos odeiam e oremos pelos que nos maltratam e perseguem. (Ver Mateus 5:44.) Ele explica assim este mandamento:

“Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?

E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mateus 5:46-47)



6.2 O Ideal de Perfeição



Este princípio – que devemos servir por amor a Deus e aos nossos semelhantes e não visando vantagem pessoal ou qualquer motivo inferior – é reconhecidamente um padrão sublime. O Salvador deve tê-lo visto assim, pois ligou Seu mandamento de amor abnegado e total diretamente ao ideal da perfeição. Logo o versículo seguinte do Sermão da Montanha contém este grande mandamento: “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 5:48)



O princípio do servir é confirmado na seção 4 de Doutrina e Convênios:



“Portanto, ó vós que embarcais no serviço de Deus, vede que o sirvais de todo o coração, poder, mente e força, para que vos apresenteis sem culpa perante Deus no último dia.” (D&C 4:2)



6.3 Servir de Todo o Coração e Mente



Este mandamento nos ensina que não basta servir a Deus com todo nosso poder e força. Aquele que vê nosso coração e conhece nossos pensamentos, exige mais que isso. Para podermos comparecer sem culpa perante Deus no último dia, precisamos servi-Lo também com todo nosso coração e mente.

Servir de todo o coração e mente é um grande desafio para todos nós. Esse serviço tem de ser isento de qualquer ambição egoísta e motivado unicamente pelo puro amor de Cristo.

Se encontramos dificuldades em servir por amor, o Livro de Mórmon pode ajudar-nos. Depois de ressaltar a importância da caridade, o Profeta Morôni aconselha:

“Portanto, meus amados irmãos, rogai ao Pai com toda a energia de vosso coração que sejais cheios desse amor, que ele concedeu a todos os que são verdadeiros seguidores de seu Filho Jesus Cristo.” (Morôni 7:48)

O serviço das pessoas imbuídas desse amor satisfará a grande prova mencionada no salmo 24:

“Quem subirá ao monte do Senhor? Ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração.” (Salmos 24:3-4).

Eu sei que Deus espera que nos esforcemos para purificar nosso coração e nossos pensamentos, para que nos sirvamos mutuamente pela melhor e mais sublime razão, o puro amor de Cristo.

Acima de tudo, sei que Deus vive, e sei que Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, morreu pelos nossos pecados e é o nosso Salvador. E sei que Deus restaurou a plenitude do Evangelho por meio do Profeta Joseph Smith nestes últimos dias. Em nome de Jesus Cristo. Amém.”

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