A quarta regra de fé declara: “Cremos que os primeiros princípios e ordenanças do evangelho sã: primeiro, fé no Senhor Jesus Cristo; segundo, arrependimento; terceiro, batismo por imersão para remissão dos pecados; quarto, imposição das mãos para o dom do Espírito Santo”.
Se pensarmos bem, veremos eu o primeiro principio – fé no Senhor Jesus Cristo – fundamenta todos os outros; isto é, é preciso ter fé em Cristo para arrepender-se, para batizar-se e para realizar as ordenanças do evangelho. Jesus tornou o arrependimento possível e deu significado ao batismo. Se Nele tivermos fé, Nele nos arrependemos e seremos batizados. Se não nos arrependermos, recusamos o batismo ou relutamos em guardar os mandamentos, é porque não temos fé suficiente Nele. Assim, arrependimento, batismo e todos os outros princípios do evangelho não estão completamente separados, mas são na verdade prolongamentos da nossa fé em Cristo. Sem fé Nele, pouco do que fizermos terá valor eterno. Com fé, nossas vidas se voltarão para as coisas da eternidade.
Precisamos de uma fé profunda e inabalável em Cristo para perseverar até o fim de nossa vida mortal. Às vezes oramos pedindo força para perseverar e, no entanto, rechaçamos justamente o que nos daria essa força. Freqüentemente buscamos o caminho mais fácil, esquecendo que na verdadeira força nos vem ao superarmos os problemas da vida que exigem de nós mais esforço do que normalmente estaríamos dispostos a fazer. O apostolo Paulo disse: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Deixai-me dar um exemplo:
Anos atrás, quando eu era um jovem missionário, fui designado para trabalhar num grupo de dezessete pequenas ilhas do Pacifico Sul. Naquela época, o único meio de transporte era o veleiro. Em virtude de mal-entendidos e das tradições locais, era difícil encontrar pessoas dispostas a ouvir nossa mensagem. Certo dia, contudo, um membro da Igreja nos disse que, se fôssemos a determinada ilha ao pôr-do-sol do dia seguinte, uma família nos estaria esperando no porto para receber palestras.
Que alegria naquela noticia nos trouxe! Foi como se tivéssemos encontrado ouro. Naquele momento eu estava sem companheiro, mas logo encontrei quatro membros que eram marinheiros experientes e que se dispuseram a levar-me à ilha no dia seguinte.
Embarcamos bem cedo. Havia uma brisa agradável que nos impelia velozmente pela costa, através da passagem no recife, levando-nos ao Oceano Pacifico adentro.
Viajamos bem nas primeiras horas, mas à medida que o sol se levantava e o barco se afastava da costa, o vento começou a diminuir até cessar por completo, deixando-nos boiando sem rumo no oceano.
Quem entende de navegação sabe que, não se vai a lugar algum. Às vezes há boas brisas sem tempestades ou mar agitado, mas, em geral, eles andam juntos. Assim, os marinheiros não temem as tempestades, pois elas contêm a alma da navegação – vento. O que eles mais temem é falta de vento, ou calmaria.
O tempo foi passando. O sol ficou mais forte e o mar mais tranqüilo ainda. Nada se movia. Logo percebemos que, se o tempo ao mudasse, não chegaríamos nem ao por-do-sol a tempo. Sugeri que orássemos pedindo ao Senhor que nos enviasse um pouco de vento. Afinal, que desejo mais justo um grupo de homens poderia ter? Proferi a oração e, quando abrimos os olhos, nada! Nem um movimento sequer. As velas continuavam paradas e até o murmúrio da água contra o barco cessara. O oceano parecia em mar de cristal.
Com o passar das horas, começamos a ficar desesperados. O mesmo marinheiro idoso sugeriu que nos ajoelhássemos novamente e que cada um orasse em voz alta em favor do grupo. Belas orações suplicantes e cheias de fé subiram então aos céus. Mas quando o último terminou e abrimos os olhos, o calor estava ainda mais intenso e o oceano parecia um gigantesco espelho. Era quase como se Satanás estivesse rindo e dizendo: “Viram? Não vão a lugar algum. Não há vento. Estão em meu poder”.
Pensei: “Há uma família no porto que deseja ouvir o evangelho. Queremos levá-lo a ela, mas estamos aqui no meio do oceano. O Senhor controla as forças da natureza. Nosso único obstáculo é falta de vento. Por que não nos ajuda? É um desejo justo”.
Enquanto assim pensava, vi aquele fiel irmão idoso ir para o fundo do nosso barco e desamarrar o pequeno barco salva-vidas. Colocou seus remos e pinos no devido lugar e abaixou-o com cuidado, ao lado do veleiro.
Olhando para mim, disse suavemente: “Entre”.
Eu perguntei: “O que está fazendo? Não há espaço para nós dois nesse barquinho!”
“Não perca tempo nem energia, venha, vou levá-lo à praia. Se quisermos chegar antes do pôr-do-sol, temos que ir agora.”
Olhei para ele, incredulamente: “Levar para onde?”
“Para a família que quer ouvir o evangelho. Temos uma designação para com o Senhor. Entre.”
Fiquei pasmado. Encontrávamo-nos a uma grande distancia do nosso destino. Alem do mais, o sol estava muito forte e este homem já era de idade. Mas, ao fitar-lhe o rosto, senti no seu olhar decidido uma vontade de ferro e na sua voz uma determinação inquebrantável, ao dizer: “Antes do pôr-do-sol estará ensinando e prestando testemunho um afmilia que quer ouvir”.
Mais uma vez objetei: ‘O senhor tem idade para ser meu avô. Deixe-me remar”.
Com a mesma determinação movida pela fé, ele respondeu: “Não, eu me encargo disso. Entre no barco e não perca mais tempo falando. Vamos!” finalmente obedeci e entrei no barco. Fiquei na frente e ele sentou-se no mio, com os pés para trás e as costas voltadas para mim.
O barco era o único objeto estranho na superfície do oceano, que parecia reclamar: “Este é o meu território saiam daqui”. Não havia a menor corrente de ar, o único som era o ruído dos remos e dos pinos, à medida que a pequena embarcação se afastava do barco a vela.
O velho curvou-se e começou a remar: para baixo, para frente, para cima. Cada vez que o remo descia, parecia quebrar a resolução do oceano espelhado. A cada movimento, o barco era impulsionado para frente, abrindo caminho no mar de vidro para o mensageiro do Senhor. Para baixo, para frente, para cima. O velho não levantou os olhos, não descansou nem conversou, apenas remou horas e horas a fio. A fé fortaleceu-lhes os músculos das costas e dos braços, e ele remou com determinação inalterável, na maravilhosa cadência de um relógio de alta precisão. Foi lindo. Avançamos silenciosa e decididamente rumo a nosso destino. O velho concentrou seus esforços e energia no cumprimento do chamado que recebera do Senhor – levar um missionário para ensinar aquela família. Ele foi o vento do Senhor aquele dia.
Mal o sol se pos, o barquinho chegou ao porto, onde a família já estava esperando. Após horas de silencio, o velho abriu a boca, dizendo: “Vá. Ensine-lhes a verdade. Ficarei aqui esperando”.
Caminhei ater a praia e apresentei-me a família. Fui então a sua casa e ensinei-lhe o evangelho. Ao prestar testemunho do poder de Deus nesta Igreja, veio-me à mente o velho tonganês remando para um porto distante e lá esperando pacientemente. Testifiquei com um fervor que nunca sentira antes que o Senhor realmente dá força aos homens para que cumpram a vontade dele, se tiverem fé. Disse à família que, quando exercemos fé no Senhor Jesus Cristo, podemos realizar o que de outra forma não nos seria possível. Disse ainda que, quando decidimos em nosso coração fazer o que é certo, o Senhor nos dá forças.
A família aceitou a mensagem e mais tarde foi batizada.
Poucos terão conhecimento isto, no anais da historia. Quase ninguém ficará sabendo sobre essa ilha quase insignificante, a família que esperou, ou o velho que nem uma única vez reclamou de cansaço ou dor nas costas, que tampouco falou em sede, ou do sol abrasador – simplesmente remou sem cessar, hora após hora. Tudo o que mencionou foi o privilégio de ser o agente do Senhor ao levar um missionário para pregar Sua palavra a alguém disposto a ouvi-la. Mas Deus sabe! Foi ele quem concedeu ao velho a força para ser Seu vento naquele dia, e nos dará força para sermos Seu vento, quando necessário.
Quantas vezes deixamos de agir porque esperamos o vento que nunca vem? Com muita freqüência oramos pra receber coisas boas e, quando ela não vem, ficamos esperando sem fazer nada. Devemos sempre orar pedindo ajuda, mas também escutar a inspiração e as impressões, que nos podem chegar de maneira inesperada. Cinco homens oraram no veleiro, mas só um deu ouvidos ao Espírito Santo e agiu. Deus sem dúvida ouve as nossas orações. Ele sabe mais do que nós. Ele tem uma experiência infinitamente maior que a nossa. Nunca devemos parar por pensar que o caminho está bloqueado ou que a única porta está fechada.
Sejam quais forem nossas tribulações, nunca digamos: ‘Basta”. Só Deus tem esse direito. Nossa responsabilidade é perguntar: “O que mais posso fazer?” ouvir a resposta e agir.
Nunca me esquecerei daquele velho.
Oro que tenhamos cada vez mais de fé no Senhor Jesus Cristo, e que a demonstremos pelas obras. Eu sei que Ele vive e ama. Sei que Ele fortalece e anima. Sei que Ele ajuda e cura. Sei que Ele perdoa e salva.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Liahona, Janeiro de 1994.