A Crucificação de Jesus Cristo

~ quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A crucificação começa. Oferecem a Jesus uma mistura de vinho e mirra, um composto analgésico suave, que Ele recusa-se a aceitar. Ordenam a Simão que coloquem a trave que carregava no chão e Jesus é rapidamente jogado para trás, seus ombros batendo contra a viga de madeira. O legionário apalpa a depressão no centro do pulso. Em seguida, atravessa-a com um cravo de ferro, pesado e sextavado, até esse penetrar a madeira. Passando para o outro lado, repete a ação, tomando o cuidado de não deixar os braços muito estendidos, a fim de permitir um pouco de movimento e de flexibilidade. A trave, em seguida, é erguida até quase o topo do poste. No alto, lê-se o título: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”, que ali fora afixado.

O pé esquerdo é pressionado contra o direito e ambos os pés são puxados para ficarem estendidos, com os artelhos para baixo. Um outro cravo perfura os dois pés, sobre o arco de cada um, deixando os joelhos ligeiramente flexionados. Dessa forma, a vítima é fixada na cruz. À medida que Ele desliza para baixo devido ao próprio peso, uma dor cruciante atinge os pulsos, prolonga-se pelos dedos e pelos braços até explodir no cérebro – os cravos nos pulsos colocam tremenda pressão sobre os nervos mediais. Quando ele tenta erguer-se para evitar o tormento desse alongamento, seu peso total recai sobre o cravo que fixa os pés. Uma vez mais, Ele sente a intensa agonia do cravo rasgando os nervos que unem os ossos do metatarso..

Nesse ponto, outro fenômeno terrível ocorre. Quando os braços fatigados começam a sofrer com ondas de cãibras que torcem os músculos, uma dor profunda, latejante e inexorável percorre-os de cima a baixo. As cãimbras impedem que Ele se erga como antes. Com os braços estendidos, os músculos peitorais ficam paralisados, enquanto os intercostais ficam impossibilitados de mover-se. É ainda possível inspirar e encher os pulmões, mas é impossível expelir o ar. Jesus luta para erguer-se a fim de conseguir pelo menos um pouco de fôlego. Finalmente, o dióxido de carbono acumulado nos pulmões e na corrente sangüínea faz com que a cãibras cedam parcialmente. Em espasmos, Ele consegue erguer-se um pouco para exalar o ar retido nos pulmões e sugar o oxigênio que lhe restaura um pouco de vida. Sem dúvida, foi em momentos desse tipo que Ele pronunciou as sete pequenas frases que estão registradas.

A primeira delas, ao observar os soldados romanos jogando dados para disputar seu manto, foi: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”

A segunda, olhando o ladrão penitente, dizia: “Ainda hoje estarás comigo no Paraíso.”

Olhando para o jovem e estarrecido João, o amado, disse-lhe: “Eis aí tua mãe.” Em seguida, olhando para Sua mãe, concluiu: “Mulher, eis aí o teu filho.”

A quarta, em meio a um gemido, era a repetição do início do Salmo 22: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?”

Horas de dor infinita, de ciclos de agonia, de cãibras insuportáveis, de asfixia parcial e intermitente, de dor lancinante causada pela laceração dos tecidos das costas ao tentar firmar-se contra a madeira áspera.  Aí, tem início outra agonia. Um dor profunda e terrível espalha-se pelo peito à medida que o pericárdio enche-se de fluídos e começa a comprimir o coração.

Isso nos lembra outra vez do Salmo 22, versículo 14: “Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram, o meu coração é como cera; derreteu-se no meio de minhas entranhas.”

Está quase consumado. A perda dos fluídos nos tecidos atingiu um nível crítico – o coração comprimido esforça-se mais para bombear o sangue espesso e letárgico por entre os tecidos – os pulmões torturados fazem um esforço frenético para sorver uma golfada de ar que seja. Os tecidos grandemente desidratados enviam ao cérebro suas ondas de estímulos dolorosos.

Jesus balbucia o quinto brado: “Tenho sede.”

Nossa mente se volta então para o profético Salmo 22: “A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar, e me puseste no pó da morte.”

Uma esponja encharcada de vinho barato e azedo, que era a principal bebida dos legionários romanos, é elevada até seus lábios. Ele aparentemente não sorve nem uma gota do líquido. O corpo de Jesus atinge agora o extremis.e Ele consegue perceber o frio da morte espalhar-se por Seus tecidos.  Esse sentimento faz com que Ele sussurre sua sexta frase, quase inaudível:

“Está consumado.”

Sua missão de expiação está concluída. Finalmente, Ele pode permitir que seu corpo morra.

Em um último ímpeto de força, mais uma vez ele se ergue forçando os pés contra o cravo, estica as pernas, toma um profundo fôlego e exclama sua sétima e ultima frase: “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito.”

O resto sabemos. Para que o Sabáth não fosse profanado, os judeus pediram que os corpos dos condenados fossem removidos das cruzes. O método usual de terminar uma crucificação era a de quebrar os ossos das pernas dos condenados, o que impedia as vítimas de se firmarem sobre os pés. Dessa maneira, a tensão sobre os músculos peitorais não podia ser aliviada e uma rápida asfixia ocorria. As pernas dos dois ladrões foram quebradas, mas quando chegaram a Jesus, viram que não era mais necessário.



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