As Forças Que Nos Salvarão, Presidente James E. Faust

~ quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sinto-me inspirado a elevar a voz de advertência contra o diabo e seus anjos — a fonte e a origem de todo o mal. Abordo esse assunto em espírito de oração, porque Satanás não é um tema inspirador. Considero-o como o grande imitador.


Creio que testemunharemos evidências cada vez maiores do poder de Satanás, à medida que o reino de Deus se torna mais forte. Creio que os esforços cada vez mais intensos de Satanás são, de certa forma, uma prova da veracidade desta obra. No futuro, a oposição se tornará mais sutil e ao mesmo tempo mais declarada. Será disfarçada com mais sofisticação e astúcia, mas também se tornará mais descarada. Precisaremos de mais espiritualidade para perceber todas as formas do mal e mais forças para resistir a ele. Os desapontamentos e reveses no trabalho de Deus, entretanto, serão apenas temporários, pois o trabalho irá avante.1

Não é uma coisa boa interessar-se por Satanás e seus mistérios. Nada de bom pode resultar de aproximar-nos do mal. Tal como quando brincamos com fogo, é muito fácil nos queimar: “O conhecimento do pecado induz à sua prática”.2 O único caminho seguro é manter-nos bem distante dele e de quaisquer de suas atividades iníquas e práticas depravadas. Os males do culto ao diabo, da feitiçaria, da bruxaria, do ocultismo, dos encantamentos, da magia negra e todas as outras formas de demonismo devem ser evitados como praga.

No entanto, o Presidente Brigham Young (1801–1877) disse ser importante “estudar (...) o mal e suas conseqüências”.3 Sendo Satanás o autor de todo o mal no mundo, é essencial, portanto, dar-nos conta de que ele é a influência por trás da oposição à obra de Deus. Alma declarou esse ponto sucintamente: “Tudo que é bom vem de Deus e tudo que é mau vem do diabo”.4

A principal razão de eu ter escolhido esse tema é ajudar os jovens, advertindo-os, como disse Paulo: “Para que não sejamos vencidos por Satanás; porque não ignoramos os seus ardis”.5 Esperamos que os jovens, que pouco conhecem sobre as filosofias enganadoras do mundo, possam manter-se a salvo das tentações e armadilhas de Satanás. Não pretendo ter pessoalmente qualquer conhecimento especial quanto aos métodos de Satanás, mas, vez por outra, fui capaz de identificar sua influência e suas ações em minha vida e na vida de outras pessoas. Quando cumpria minha primeira missão, ele procurou desviar-me de meu futuro caminho e, se possível, destruir minha utilidade para a obra do Senhor. Isso foi há quase sessenta anos, mas ainda lembro muito bem como me pareceram razoáveis as suas propostas.

Os Apelos Sedutores de Satanás

Quem nunca ouviu e sentiu as instigações do diabo? Sua voz parece muitas vezes tão convincente, e sua mensagem tão fácil de justificar. É uma voz sedutora e atrativa, de doces tons. Não é ríspida nem discordante. Ninguém daria ouvidos à voz de Satanás se ela soasse áspera ou maldosa. Se a voz do diabo fosse desagradável, não seduziria as pessoas a lhe darem ouvidos.

Shakespeare escreveu: “O príncipe das trevas é um perfeito cavalheiro”6, e “O diabo sabe citar as escrituras para seus propósitos”.7 Como o grande imitador, Lúcifer possui maravilhosos poderes de ilusão. Conforme disse Paulo aos coríntios: “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz”.8

Alguns dos argumentos mais eficazes de Satanás são: “Todo mundo está fazendo”; “Se não prejudica ninguém, tudo bem”; “Se você se sente bem fazendo isso, tudo bem”; ou “É isso que está na moda”. Essas armadilhas sutis fazem de Satanás o grande imitador, o mestre dos impostores, o maior dos farsantes e o grande mentiroso.
Todos possuímos um freio interior que nos detém antes de seguirmos Satanás longe demais no caminho errado. É uma voz mansa e delicada. Mas se nos permitirmos ceder à tentação de Satanás, o freio começa a vazar fluido, enfraquecendo e deteriorando nosso mecanismo de freagem.
Néfi nos deixou a fórmula ou padrão de ação de Satanás:
“E a outros pacificará e acalentará com segurança carnal, de modo que dirão: Tudo vai bem em Sião; sim, Sião prospera. Tudo vai bem — e assim o diabo engana suas almas e os conduz cuidadosamente ao inferno.
E eis que a outros ele lisonjeia, dizendo-lhes que não há inferno; e diz: Eu não sou o diabo, porque ele não existe — e assim lhes sussurra aos ouvidos até agarrá-los com suas terríveis correntes, das quais não há libertação.” 9
A Primeira Presidência descreveu Satanás: “Ele trabalha tão bem disfarçado, que muitos não o reconhecem, nem a seus métodos. Não existe crime que não cometa, nem devassidão que não invente, nem praga que não envie, nem coração que não despedace, nem vida que não tome ou alma que não destrua. Vem como o ladrão à noite; é um lobo disfarçado em pele de cordeiro”.10 Satanás é o mestre mundial no uso da lisonja; ele conhece a grande força da língua e da fala, um poder que seus servos estão sempre utilizando.11 Ele sempre foi uma das grandes forças do mundo.
Certa vez, ouvi Ernest LeRoy Hatch, que foi presidente do templo da Cidade da Guatemala, dizer: “O diabo não é esperto por ser o diabo; ele é esperto por ser muito velho”. De fato, o diabo é velho, e nem sempre foi o diabo. A princípio não era o perpetrador do mal. No início, fazia parte das hostes celestes. Era “um anjo de Deus, que possuía autoridade na presença de Deus”.12 Antecipando-se a Cristo, propôs a Deus, o Pai: “Eis-me aqui, envia-me; serei teu filho e redimirei a humanidade toda, de modo que nenhuma alma se perca; e sem dúvida eu o farei; portanto dá-me a tua honra”.13 Propunha-se a fazer isso à força, destruindo o arbítrio do homem.
Satanás tornou-se o diabo ao procurar obter glória, poder e domínio pela força.14 Jesus, porém, tendo sido escolhido “desde o princípio”, disse a Deus: “Pai, faça-se a tua vontade e seja tua a glória para sempre”.15 Que grande diferença na proposta! Por mais errado que estivesse, Satanás foi persuasivo o bastante para induzir um terço das hostes celestes a segui-lo.16 Cometeu uma grande fraude ao dizer: “Eu também sou filho de Deus”17, persuadindo outros a amá-lo mais do que a Deus.
Arbítrio — Nossa Alternativa

O arbítrio que nos foi dado por meio do plano de nosso Pai é a grande alternativa ao plano de imposição de Satanás. Com esse sublime dom, podemos crescer, progredir e buscar a perfeição. Sem o arbítrio, nenhum de nós poderia crescer e desenvolver-se, aprendendo com nossos enganos e erros e com os de outras pessoas.

Devido à sua rebelião, Lúcifer foi expulso e “tornou-se Satanás, sim, o próprio diabo, o pai de todas as mentiras, para enganar e cegar os homens e levá-los cativos segundo sua vontade, sim, todos os que não derem ouvidos [à voz do Senhor]”.18 E assim, esse personagem que foi um anjo de Deus com autoridade, foi banido da presença de Deus e de Seu Filho.19 Isso causou muita tristeza nos céus, “porque os céus prantearam por ele — ele era Lúcifer, um filho da manhã”.20 Acaso isso não dá aos seguidores de Cristo a responsabilidade de se preocupar com os entes queridos que se desviaram do caminho, estando “banidos da presença de Deus”?21 Não conheço melhor maneira de demonstrar amor incondicional do que ajudar a alma perdida a buscar outro caminho.

Satanás, porém, exerce uma importante função negativa. Em 2 Néfi lemos: “Porque é necessário que haja uma oposição em todas as coisas”.22 De fato, Pedro adverte: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”.23
C. S. Lewis, um escritor cristão, deu-nos uma visão perspicaz das táticas do diabo. Numa carta fictícia, Screwtape, o diabo-chefe, instrui o aprendiz de diabo Wormwood, que está procurando se tornar mais experiente:


“Você dirá que são apenas pecados insignificantes. Sem dúvida, como todos os jovens tentadores, você está ansioso para relatar iniqüidades espetaculares. (...) Não importa quão pequenos sejam os pecados, uma vez que seu efeito cumulativo é afastar o homem da Luz e levá-lo ao Nada. (...) Na verdade, o caminho mais seguro para o inferno é o caminho gradual — declive suave, pavimento macio, sem curvas fechadas, sem marcos, sinais ou postes indicadores.”24


C. S. Lewis também escreveu: “Aceita-se como válida a tola idéia de que as pessoas de bem não sabem o que significa tentação. Isso obviamente é mentira. Só quem procura resistir à tentação sabe como ela é forte. (...) Descobre-se a força do vento ao caminhar-se contra ele, e não ao deitar-se no chão”.25
O Profeta Joseph Smith disse por experiência própria: “Quanto mais a pessoa se aproxima do Senhor, maior poder será manifestado pelo adversário para impedir a realização de Seus propósitos”.26


Nossa Defesa: Permanecer Firmes

Contudo, não precisamos ficar paralisados por medo do poder de Satanás. Ele não tem poder sobre nós, a menos que o permitamos. Na verdade, ele é covarde, e se ficarmos firmes, ele recuará. O Apóstolo Tiago aconselhou: “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.27 Ele não consegue ler nossos pensamentos, a menos que os expressemos com palavras. Néfi disse que o diabo “não tem poder sobre o coração” das pessoas justas.28 Ouvimos comediantes e outras pessoas justificarem ou explicarem suas más ações, dizendo: “O diabo me induziu”. Não creio que o diabo consiga realmente nos induzir a fazer coisa alguma. Sem dúvida ele pode tentar e enganar, mas não tem autoridade sobre nós, a menos que o permitamos.
O poder de resistir a Satanás pode ser maior do que imaginamos. O Profeta Joseph Smith ensinou: “Todos os seres com corpos possuem domínio sobre os que os não têm. O diabo não tem poder sobre nós, exceto se o permitirmos. No momento em que nos rebelarmos contra qualquer coisa que vier de Deus, o diabo exercerá seu domínio”.29
Declarou ainda: “Os espíritos iníquos têm seus limites, termos e leis pelos quais são governados”.30 Portanto, Satanás e seus anjos não são todo-poderosos. Um dos métodos de Satanás é persuadir a pessoa que transgrediu de que não existe esperança de perdão. Mas sempre existe esperança. Para a maioria dos pecados, por mais graves que tenham sido, há a possibilidade de arrependimento, se o desejo for suficientemente sincero.


Discernir o Mal

Satanás tem tido muito sucesso com esta geração facilmente influenciável. Em conseqüência disso, multidões, literalmente, se tornaram vítimas dele e de seus anjos. No entanto, existe um grande escudo contra o poder de Lúcifer e de suas hostes. Essa proteção acha-se no espírito de discernimento, por meio do poder do Espírito Santo. Esse dom se manifesta invariavelmente pela revelação pessoal àqueles que se empenham em obedecer aos mandamentos do Senhor e em seguir o conselho dos profetas vivos.


Essa revelação pessoal virá, sem dúvida, a todos aqueles que têm os olhos fitos na glória de Deus, porque têm a promessa de que seu “corpo se encherá de luz e [neles] não haverá trevas”.31 Todos que se achegam a Cristo pela obediência aos convênios e ordenanças do evangelho podem frustrar os esforços de Satanás. Os humildes seguidores do divino Mestre não serão enganados pelo diabo se forem honestos e sinceros com seus semelhantes, se forem à casa do Senhor, tomarem o sacramento dignamente, santificarem o Dia do Senhor, pagarem seu dízimo e ofertas, orarem com contrição, se empenharem no trabalho do Senhor e seguirem aqueles que os presidem.


Há forças que nos salvarão das crescentes mentiras, desordens, violência, caos, destruição, miséria e fraudes que vemos na Terra. Essas forças salvadoras são os eternos princípios, convênios e ordenanças do evangelho eterno do Senhor Jesus Cristo. Esses mesmos princípios, convênios e ordenanças estão ligados aos direitos e poderes do sacerdócio do Deus Onipotente. Nós, desta Igreja, somos portadores e guardiães desses poderes dominantes que podem fazer retroceder grande parte do poder de Satanás na Terra, e sem dúvida o farão. Cremos que possuímos esses poderes vigorosos em benefício de todos os que morreram, de todos os que vivem hoje e dos que ainda estão por nascer.


Oro que, ao expandirmos a retidão, as mãos malignas do destruidor sejam detidas para que não lhes seja permitido amaldiçoar o mundo inteiro. Oro a Deus que revele nossas fraquezas, imperfeições e numerosas falhas e que perdoe generosamente nossos erros e transgressões. Que Ele dê alívio aos que sofrem, consolo aos que choram e paz aos que estão aflitos e abatidos.


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Idéias para os mestres familiares

Depois de se preparar em espírito de oração, compartilhe esta mensagem, utilizando um método que incentive a participação daqueles que você estiver ensinando. Seguem-se alguns exemplos.


1. Peça aos membros da família que imaginem que estão sentados ao redor de uma fogueira. Troquem idéias sobre os perigos de brincar com o fogo. De que modo isso se parece com “interessar-se por Satanás e seus mistérios”? Compartilhe alguns exemplos citados pelo Presidente Faust sobre como podemos vencer as armadilhas de Satanás. Desafie a família a ser um exemplo digno no empenho de frustrar os planos do diabo.



2. Mostre um carrinho de brinquedo ou a gravura de um carro, ou peça à família que olhe para um carro que esteja próximo. O que aconteceria se alguém estivesse dirigindo e os freios falhassem? Cite o exemplo do Presidente Faust a respeito de nosso próprio sistema interno de freagem. Testifique a respeito da importância de fortalecermos nossa sensibilidade ao Espírito Santo e de darmos ouvidos à voz mansa e delicada para combatermos o mal.



3. Usando o artigo, anote alguns dos artifícios de Satanás e algumas ferramentas espirituais que temos para combatê-lo. Converse com a família sobre as táticas do diabo e explique-lhes que temos o poder de derrotá-lo. Preste testemunho de que uma vida digna pode frustrar os planos de Satanás.



Notes

1. Ver D&C 3:1; 65:2.
2. Joseph F. Smith, Gospel Doctrine, 5ª ed., 1939, p. 373.
3. Discourses of Brigham Young, sel. John A. Widtsoe, 1941, p. 257.
4. Alma 5:40.
5. II Coríntios 2:10–11.
6. Rei Lear, ato 3, cena 4, verso 148.
7. O Mercador de Veneza, ato 1, cena 3, verso 99.
8. II Coríntios 11:14; ver também 2 Néfi 9:9.
9. 2 Néfi 28:21–22.
10. James R. Clark, comp., Messages of the First Presidency of The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols., 1965–1975, volume 6, p. 179.
11. Ver Jacó 7:4.
12. D&C 76:25.
13. Moisés 4:1.
14. Ver Moisés 4:3–4.
15. Moisés 4:2.
16. Ver Apocalipse 12:4; D&C 29:36.
17. Moisés 5:13.
18. Moisés 4:4.
19. Ver D&C 76:25.
20. D&C 76:26.
21. Ver Moisés 6:49.
22. 2 Néfi 2:11.
23. I Pedro 5:8.
24. The Screwtape Letters, 1961, p. 56.
25. Mere Christianity, 1960, p. 124.
26. Orson F. Whitney, Life of Heber C. Kimball, 1945, p. 132.
27. Tiago 4:7.
28. Ver 1 Néfi 22:26.
29. The Words of Joseph Smith, ed. Andrew F. Ehat e Lyndon W. Cook, 1980, p. 60.
30. History of the Church, volume 4, p. 576.
31. D&C 88:67.

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Liahona Janeiro 2007

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